Estreia de Mestres do Tempo
Mestres do Tempo é um espetáculo de teatro com formas animadas e canções que trata de histórias de pescadores e pescadoras artesanais de Santa Catarina. A dramaturgia, criada a partir de uma viagem de bicicleta das duas atrizes por 700 km do litoral catarinense visitando vilas de pescadores, tem o intuito de honrar as histórias a elas confiadas, que dentre outras coisas, nos fazem lembrar que somos parte da natureza.
A viagem de pesquisa
Setecentos quilômetros em dez dias, percorrendo todo o litoral catarinense… de bicicleta! Essa foi a aventura que as atrizes e produtoras Angela Finardi e Prika Lourenço empreenderam em janeiro com um objetivo artístico, mas também de valorização de uma tradição: visitar colônias de pescadores artesanais, coletar depoimentos e montar o espetáculo teatral “Mestres do Tempo”.
Angela e Prika, integrantes da Metamorfose Cia. Cência (Joinville), tiveram a ideia do projeto a partir de duas paixões: a natureza e as viagens de bicicleta. As pedaladas junto ao mar despertaram a curiosidade sobre a vida de quem tira dele a subsistência. E assim, com “Mestres do Tempo” na mente, a dupla foi de Passos de Torres a Itapoá sobre duas rodas, parando em vilas de pescadores para conhecer a rotina dessas pessoas e suas famílias, as tradições, medos, anseios e a relação com a natureza. Lugares como o Farol de Santa Marta (Laguna), Barra da Lagoa (Florianópolis), Ponte do Imaruim (São José), Canto dos Ganchos (Governador Celso Ramos), Vila da Glória (São Francisco do Sul) e praia do Pontal (Itapoá).
Encontros e Histórias
Em cada parada, surpresa com a coragem das duas e o motivo da aventura, mas também muita hospitalidade e desejo de ajudar. ‘Tivemos a sorte de encontrar na Barra de Laguna vários pescadores pescando em cooperação com os botos. Eles nos receberam muito bem e foram extremamente generosos ao expor a história de luta pela preservação dos botos”, contam as atrizes, que lembram com carinho de Dona Naca, em Canto dos Ganchos, que as convidou para dormir em sua casa e presenteou com um santo para protegê-las na viagem.
“O que mais nos impressionou é o conhecimento ancestral acerca das luas, das marés, da relação entre o que tem na terra e o que tem no mar. O tempo de cada semeadura e colheita e também o tempo de migração dos peixes. A leitura que fazem dos ciclos da natureza é impressionante”, afirmam elas.
A dramaturgia
Dos 24 pescadores entrevistados, apenas sete, por uma questão de recorte narrativo, foram selecionados para serem personagens do espetáculo, ao quais Angela e Prika darão vida com seus corpos e com o uso de bonecos. O veterano Silvestre Ferreira dirige a montagem com dramaturgia construída a várias mãos, mas cuja versão final é do escritor e crítico de teatro Marco Vasques, ele mesmo um apaixonado pela pesca. A viagem de bicicleta aparece no roteiro, mas as estrelas são os pescadores e pescadoras. “Estamos tendo o cuidado de honrar as histórias que nos foram contadas, sem deixar de dar espaço para a fantasia. Alguns pequenos fragmentos são imaginados a partir das histórias, mas existe uma preocupação em ser fiel ao universo da pesca artesanal de Santa Catarina”, afirma Prika.
Concepção de Cenário, Figurino e bonecos
No universo caleidoscópico da criação teatral, onde os fios da realidade se entrelaçam com a fantasia, a visão singular de Fábio Nunes Medeiros se destaca. Como diretor de teatro e pesquisador em dramaturgia visual e teatro de animação, ele é o artífice por trás das redes que vestem a essência do espetáculo com cenários, bonecos e figurinos que narram as crônicas silenciosas do mar.
Cenário: A Geografia da Emoção
A geografia da cenografia de Fábio Medeiros é vasta como o oceano e íntima como o abraço do lar. Com base nos registros fotográficos e em vídeos capturados pelas atrizes em sua incursão etnográfica, ele constrói um cenário que é mais do que um espaço físico: é um mapa emocional. As ondas, as redes de pesca, a textura da areia e o sopro do vento ganham forma em um ambiente que não apenas representa, mas evoca a geografia e o sentimento das colônias de pesca do litoral catarinense. É uma homenagem à terra e ao mar, um convite para que o público sinta o pulsar da vida nas veias dessas comunidades.
Bonecos: Os Mestres do Tempo
Os bonecos de manipulação direta criados por Fábio carregam em si a essência dos pescadores e pescadoras cujas vidas foram gentilmente emprestadas à narrativa. Cada figura é um retrato, uma história, um pedaço de identidade. Fábio transfere para os bonecos os traços dos homens e mulheres do mar. Eles não são apenas objetos animados, ele carregam autenticidade e a força de uma cultura moldada pelas marés.
A trilha Sonora
A trilha sonora é o pulso invisível que dá ritmo e coração a uma peça teatral, e no espetáculo "Mestres do Tempo", a compositora Prika Lourenço enfrentou o desafio de traduzir a essência das histórias de pescadores e pescadoras artesanais de Santa Catarina em notas musicais. O processo criativo por trás dessa composição é uma viagem à parte, tão rica e profunda quanto a travessia de bicicleta realizada pelas atrizes ao longo do litoral catarinense.
Imersão e Inspiração
Prika iniciou seu processo criativo com uma imersão total nas narrativas coletadas pelas atrizes. As histórias de vida, as lutas diárias, os sucessos e as dificuldades dos pescadores artesanais, cada elemento foi absorvido e refletido em sua música. O processo de composição foi, de certa forma, um ato de escuta ativa, onde as palavras não ditas foram tão importantes quanto as histórias contadas.
Harmonia com a Natureza
Uma das premissas essenciais do espetáculo é a lembrança de nossa conexão intrínseca com a natureza, e essa ideia permeia toda a trilha sonora. Prika procurou elementos musicais que evocassem o som do mar, o sopro do vento e o canto dos pássaros. As melodias e harmonias compostas procuram refletir o ritmo natural dos ambientes visitados, criando uma simbiose entre a música e o mundo natural que é tema da peça.
Instrumentação e Sonoridade: A Fusão do Orgânico com o Moderno
No coração da trilha sonora de "Mestres do Tempo", a compositora Prika Lourenço escolheu uma paleta instrumental que funde o orgânico com o moderno, refletindo a mescla entre a tradição e a contemporaneidade das histórias apresentadas. O violão, com suas cordas vibrantes, traz a textura e a intimidade das vilas de pescadores, enquanto o piano oferece sua ressonância emocional, pontuando a narrativa com profundidade e sutileza.
Os sintetizadores entram como um contraponto, adicionando uma dimensão moderna e inovadora à trilha. Com eles, Prika infunde atmosferas e texturas que complementam a sonoridade acústica, criando um ambiente sonoro que é ao mesmo tempo reconfortante e surpreendente. Essa combinação habilidosa permite que a trilha transite fluídamente entre o passado e o presente.
Através dessa seleção de instrumentos, a trilha sonora de Prika Lourenço abraça a organicidade das histórias e as raízes culturais do litoral catarinense, ao mesmo tempo que incorpora elementos modernos, refletindo a constante evolução da vida dos pescadores e pescadoras. A música se torna uma expressão de tempo e espaço, onde o antigo e o novo coexistem em harmonia, dialogando com as múltiplas camadas da experiência humana.
Colaboração e Processo Dinâmico
O processo de criação da trilha não foi um trabalho solitário. Prika trabalhou em estreita colaboração com de Angela Finardi e com o diretor Silvestre Ferreira, garantindo que cada nota e cada pausa estivessem em harmonia com os elementos visuais e narrativos da peça. A música foi construída para dialogar com as formas animadas e as canções interpretadas pelas atrizes, criando um tecido integrado de expressões artísticas.
Emoção e Narrativa
A cada acorde, a trilha sonora de "Mestres do Tempo" carrega consigo a emoção das histórias confiadas às atrizes. Prika conseguiu, com sua sensibilidade e técnica, compor uma trilha que não apenas acompanha a narrativa, mas a eleva, trazendo uma dimensão adicional de profundidade e sentimento ao espetáculo. A música atua como uma narradora silenciosa, que guia o público através das emoções e vivências dos personagens.
Conclusão: A Música como Ponte
Prika Lourenço, através de sua trilha sonora, constrói uma ponte audível entre o público e as histórias do litoral catarinense. A música torna-se um veículo para a empatia e a compreensão, uma ferramenta poderosa para honrar e celebrar a vida dos pescadores e pescadoras. No final, a trilha sonora de "Mestres do Tempo" é uma homenagem poética à resiliência, à sabedoria e à beleza que esses guardiões do mar compartilham com o mundo.
A EQUIPE
Ficha Técnica
Elenco e Produção: Angela Finardi e Prika Lourenço
Direção: Silvestre Ferreira
Desenho de dramaturgia: Marco Vasques
Cenografia, Figurino, Criação/confecção de bonecos: Fábio Nunes Medeiros
Assessoria em animação de bonecos: Willian Sieverdt
Designer Gráfico: Iago Sartini
Iluminação (criação e operação): Flávio Andrade
Trilha sonora: Prika Lourenço
Operação de som: Vinicius Ferreira
Assessoria de Imprensa: Rubens Herbst
Registro Fotográfico: Rodrigo Chaves, Manoela e Oswaldo Rodaski
Registro Audiovisual: 03 Filmes
Produção Local: Sandra Checluski Souza (Florianópolis) e Nena Kirinus (Itapoá)
Realização: Metamorfose Cia Cênica
Mestres do tempo
Marco Vasques
Angela Finardi
Fábio Nunes Medeiros
Prika Lourenço
Silvestre Ferreira
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